Definição
As imagens que vemos não são mais do que a luz reflectida dos objectos. Essa luz é processada numa película nervosa do olho chamada retina, que funciona como uma película fotográfica. Os feixes de luz que entram no olho são paralelos entre si. Para que possam ser processados pela retina tem de ser focados de forma a convergir nela.
O olho possui um sistema óptico que lhe permite em condições normais focar, de forma automática, os feixes luminosos na posição correcta. Quando isso não acontece estamos na presença de um erro refractivo.
Existem 3 grandes formas de erros refractivos.
Hipermetropia
Os raios luminosos convergem atrás da retina. Tudo se passa como se olho fosse demasiado pequeno ou o sistema de focagem fosse demasiado fraco. Como a visão de objectos próximos necessita de uma focagem maior do que visão de objectos ao longe, a primeira de dificuldade dá-se para ver ao perto. Dentro de certos valores e em indivíduos jovens a visão de longe pode ser normal.
Miopia
Os raios luminosos convergem à frente da retina. Tudo se passa como de olho fosse demasiado grande ou o sistema de focagem demasiado potente. Como a visão de perto precisa de uma focagem maior do que a visão de longe, os míopes vêm bem ao perto mesmo sem correcção. A visão dos objectos distantes fica desfocada.
Astigmatismo
Os raios luminosos não convergem todos no mesmo plano. Os feixes luminosos focam em planos diferentes de acordo com a posição (meridiano) em que penetram no olho. É como se olho deixasse de ter uma forma redonda em que todos os meridianos têm uma curvatura igual e passasse a ter uma forma alongada em que um dos meridianos tem uma curvatura diferente. Provoca uma visão desfocada ao longe e ao perto.
Aspectos demográficos e importância clínica
Os erros refractivos estão presentes numa larga proporção da população mundial. Embora existam diferenças relacionadas com a idade, com sexo e coma raça, estima-se que mais de 50% de toda a população seja portadora de um erro refractivo.
Os erros refractivos são fáceis de diagnosticar, medir e corrigir com meios ópticos adequados de forma a obter uma acuidade visual normal. No entanto nas sociedades em que não são correctamente tratados tornam-se uma importante causa de deficiência visual, com consequências imediatas e a longo prazo nas crianças e nos adultos.
O défice visual resultante dos erros refractivos não corrigidos prejudica a aprendizagem e a produtividade no trabalho, com diminuição da capacidade de ganho, bem como a qualidade de vida dos indivíduos afectados.
HIPERMETROPIA
A hipermetropia está habitualmente presente ao nascimento, diminuindo de forma progressiva nos primeiros 3-4 anos de vida.
Se considerarmos qualquer valor de hipermetropia, a sua prevalência é de 37% nas crianças entre os 3 e os 8 anos de idade, baixando para os 29,5% no grupo etário entre os 9 e os 19 anos. Se contudo se considerarem apenas valores de hipermetropia superiores a 1,5 D, a prevalência baixa para valores na ordem dos 4-7% entre os 5 e os 29 anos.
Nas crianças a prevalência da hipermetropia é mais elevada entre os Brancos, seguida dos Hispânicos, Afro-Americanos e Asiáticos. Há um estudo curioso (Crawford) que mostra uma maior prevalência de Hipermetropia entre as crianças de origem Portuguesa relativamente a todos os outros grupos
A prevalência da hipermetropia mantém-se constante durante a meia-idade e aumenta nas populações acima os 45 anos.
As hipermetropia de baixo valor aparentam ter uma hereditariedade autossómica dominante, enquanto as de valor elevado aparentam ser autossómicas recessivas.
A hipermetropia não compensada é a responsável por cerca de 80% dos estrabismos convergentes que surgem entre os 2 e os 4 anos. Ao contrário do que acontece na miopia, o sistema óptico do olho consegue, dentro de certos limites, compensar o défice de focagem do olho hipermetrope. Esse excesso de focagem associa-se muitas vezes a um aumento anormal da convergência provocando estrabismo. Por essa razão, sempre que se suspeita da presença de hipermetropia deve efectuar-se a sua medição com auxílio de gotas que garantam a medição correcta dos valores em causa.
MIOPIA
De um modo geral a sua prevalência vária com a idade, com a raça e com o sexo.
Aumenta nas primeiras décadas de vida, particularmente durante a infância tardia e a adolescência. Está presente em 1% das crianças aos 5 anos, aumentando para 8% aos 10 anos e 15% aos 15 anos. É ligeiramente mais frequente no sexo feminino.
Num estudo epidemiológico efectuado na comunidade de Valência a prevalência da miopia foi 2,5% nas crianças entre os 3 e os 8 anos, aumentando para 25,7% no grupo com idade compreendida entre os 9 e os 19 anos.
A prevalência da miopia é muito variável em função da etnia. Os Asiáticos têm a prevalência mais elevada, seguidos pelos Hispânicos. Os Afro-Americanos e os Brancos têm prevalências mais baixas
Existem vários factores de risco para o aparecimento de miopia numa criança. Uma história familiar positiva de miopia é um factor de risco muito importante. A prevalência de miopia na presença de um progenitor míope é de 20-40%, e na presença de ambos os progenitores é de 30-60%. Outro factor de risco é a ausência de hipermetropia ou uma hipermetropia inferior a 0,5D na idade pré-escolar. O excesso de utilização da visão de perto, que inclui a leitura frequente e regular, aparentemente constitui também um factor de risco.
Na maioria dos casos a miopia apresenta-se numa forma simples que aumenta durante a infância e a adolescência a um ritmo variável, não ultrapassando as 6 D.
A miopia degenerativa é mais rara. Tem valores superiores a 6D e normalmente acaba por apresentar alteraçoes da retina que podem trazer complicações visuais.
ASTIGMATISMO
É provavelmente o erro refractivo mais frequente. Se considerarmos qualquer valor de astigmatismo a sua prevalência é superior a 70%.
Para valores superiores a 1D a prevalência de astigmatismo é de cerca 28% entre as crianças. Por etnia é mais frequente nos Hispânicos, seguindo-se os Asiáticos, os Brancos e os Afro-Americanos.
Ao contrário da hipermetropia cuja prevalência na infância diminui com a idade, e da miopia cuja prevalência na infância aumenta com a idade, o astigmatismo na infância não altera a sua prevalência com a idade.
Normalmente é provocado por uma irregularidade na forma da córnea. Mais raramente a causa está no cristalino. Como essas irregularidades provocam alteração do foco apenas em um meridiano, a focagem dá-se para esse meridiano num plano diferente dos restantes, desfocando a imagem final quer para objectos próximos quer para objectos distantes.
Felizmente a maioria dos astigmatismos são de valores muito pequenos e por isso não provocam alteraçoes visuais importantes. Podem no entanto provocar cansaço visual e dores de cabeça, devendo nesses casos ser bem corrigidos.
Na ausência de traumatismo ou doença ocular desconhecem-se as causas do astigmatismo. Pode ser hereditário e estar presente ao nascimento. Embora na maioria dos casos não sofra grandes alteraçoes com o tempo pode altera-se com o crescimento aumentando ou diminuindo.