Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo

Ptose

Definição
Ptose significa pálpebra “caída”. Embora possa ocorrer ptose da pálpebra inferior, habitualmente o termo refere-se à pálpebra superior.

A pálpebra pode apresentar-se apenas ligeiramente “caída” ou muito “caída”, podendo então ocluir parcial ou totalmente a pupila. Uma ptose exuberante pode diminuir ou mesmo bloquear a visão.

A ptose pode ser hereditária e pode afectar a pálpebra superior de um ou dos dois olhos. Pode manifestar-se ao nascimento - ptose congénita, ou aparecer posteriormente – ptose adquirida.

Ambas as formas, congénita e adquirida, colocam um problema estético e funcional sobretudo nas formas mais graves. Contudo a forma congénita é particularmente importante e perigosa, porque põe em risco o normal desenvolvimento da função visual. A maioria das competências visuais desenvolve-se de forma muito acelerada durante os primeiros meses de vida, e por isso uma obstrução do eixo visual durante este período, pode deixar alteraçoes da visão para toda a vida.

Ptose congénita
Pode resultar de várias causas. A mais frequente é um enfraquecimento ou uma deiscência do músculo e/ou da aponevrose que faz a elevação da pálpebra superior. Habitualmente deve-se a uma alteração do desenvolvimento do próprio músculo.

A ptose congénita pode aparecer como alteração isolada ou associada a outras alteraçoes. São exemplo de alteraçoes associadas à ptose: alteraçoes dos movimentos oculares, doenças do foro muscular, tumores da pálpebra ou da órbita e algumas doenças neurológicas.

Sinais e sintomas
O sinal mais óbvio é a presença da pálpebra caída. Na ptose congénita há frequente uma assimetria da prega da pálpebra superior.

Frequentemente as crianças afectadas inclinam a cabeça para trás e levantam o queixo de forma a destapar o eixo visual. Outras vezes fazem contracção das sobrancelhas numa tentativa de levantar a pálpebra acima do eixo visual. Estas manobras da cabeça e da face, são sinais indicadores da tentativa que acriança faz para ver simultaneamente com os dois olhos. Com o tempo estas posições viciosas podem provocar deformidades no pescoço e na cabeça.

Problemas resultantes da ptose
O sistema visual desenvolve-se e sofre a sua maturação nos primeiros 6-8 anos. É particularmente sensível a qualquer obstrução do eixo visual nos primeiros meses de vida. Uma ptose que obstrua o eixo visual de forma significativa põe em risco o desenvolvimento normal da visão e provoca o aparecimento de ambliopia (olho preguiçoso).

A presença de ptose pode também condicionar o aparecimento de astigmatismo com a consequente diminuição da acuidade visual. Este astigmatismo se não tratado em tempo útil pode também contribuir para a instalação de ambliopia.

Finalmente a presença de ptose pode ocultara presença de estrabismo e desta forma contribuir também para o desenvolvimento de ambliopia.

Tratamento
O tratamento da ptose congénita é quase sempre cirúrgico (98% dos casos). São indicações para cirurgia a obstrução do eixo visual pela pálpebra ptótica, a posição anómala da cabeça, um atraso no desenvolvimento e um aspecto da face inaceitável.

A cirurgia deve ser realizada em idade pré-escolar (3-5 anos) embora deva ser mais precoce nas situações em que condiciona alteraçoes no desenvolvimento da visão. A cirurgia é decidida com base na gravidade da ptose (altura da pálpebra) e na sua causa. Outros factores a ter em conta na abordagem cirúrgica são a presença de ptose mono Vs bilateral e a presença ou ausência de alterações dos movimentos oculares.

A cirurgia mais comum consiste no avanço e/ou encurtamento do músculo levantador da pálpebra superior.

Contudo nas crianças em que a função deste músculo é muito pobre (inferior a 3 mm) esta técnica cirúrgica é muito pouco eficaz. Deve realizar-se outra técnica que consiste em fazer uma sutura que une a pálpebra ao músculo frontal ao nível da sobrancelha – suspensão frontal. Esta sutura deve ser realizada com um material adequado; os materiais mais usados são a fáscia lata colhida na coxa ou um material sintético de politrifluoretileno (PTFE) conhecido por fita de Ruban, comercialmente disponível. Na presença de uma ptose monolateral esta técnica levanta alguns problemas de decisão porque a sua realização cria uma assimetria no funcionamento entre as duas pálpebras.

As ptoses pequenas ou moderadas podem não necessitar de cirurgia nas idades mais precoces. Nestes casos mais leves as crianças devem ser examinadas regularmente para garantir a ausência de ambliopia, de erros refractivos e de outras alterações associadas.

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