Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo

Ambliopia

Em que consiste a ambliopia?
Ambliopia consiste na diminuição da acuidade visual de um ou de ambos os olhos. Em termos técnicos, dizemos que um olho é ambliope quando tem uma acuidade visual que é inferior à de um olho considerado normal em pelo menos duas linhas numa escala subjectiva da medição da visão.
Mais importante que esta definição é a ideia de que a ambliopia é um fenómeno cortical; embora a causa possa estar no olho, as alterações relacionadas com a ambliopia estão situadas ao nível das áreas cerebrais relacionadas com a visão. Para que estas áreas se desenvolvam correctamente é imprescindível que a informação visual (qualidade das imagens) que chega ao córtex visual nos primeiros anos de vida seja de boa qualidade. Este período que corresponde aos primeiros 6 ou 7 anos denomina-se período crítico, e corresponde ao lapso de tempo em que o cérebro tem a plasticidade suficiente para desenvolver competência visual.

A partir de que idades se desenvolve?
A ambliopia pode desenvolver-se a partir do nascimento. Tudo depende da causa. Quando uma criança nasce, o fenómeno visual é essencialmente sub-cortical. Embora toda a estrutura cortical esteja morfologicamente presente ao nascimento, a sua funcionalidade só vai desenvolver-se depois por acção do estímulo luminoso. Se houver uma anomalia congénita (por ex. catarata) que impeça a luz de entrar no olho, a ambliopia desenvolve-se imediatamente. Esta é a forma mais grave de ambliopia; nesta situação concreta, o período de plasticidade cerebral esgota-se nos primeiros meses de vida, pelo que o tratamento deve ser realizado com extrema urgência. Uma catarata congénita deve ser operada entre as 6 semanas de vida e os 2 ou 3 meses. Noutras situações a ambliopia pode desenvolver-se mais tarde, quando surgem as suas causas, como acontece com o estrabismo ou os erros refractivos; nestes casos também o tal período crítico é mais prolongado e vai até aos 7 ou 8 anos de idade.

Porque é que se atribui o nome de “olho vago” ou de “olho preguiçoso” a este problema?
A designação de olho preguiçoso é muito comum e significa que se trata de um olho com funcionalidade abaixo do normal.

Quais os principais sintomas da ambliopia?
O único sintoma da ambliopia é a diminuição da visão! Contudo as crianças raramente se queixam de má visão, pelo que mais importante que os sintomas são os sinais de má visão.
A partir dos 3-4 anos as crianças normalmente já colaboram em alguns testes de visão, e a presença de uma resposta anormal pode fazer suspeitar de ambliopia. Nas crianças mais pequenas, é necessário procurar outros sinais, tais como a forma como reagem à oclusão de cada um dos olhos ou ao padrão de fixação dos objectos ou imagens com cada um dos olhos.
Mais fiável ainda é o diagnóstico da presença de alterações capazes de provocar ambliopia.

Podemos falar de causas de ambliopia?
São várias as causas de ambliopia.
As mais graves e urgentes para tratar, embora mais raras, são aquelas que provocam obstrução da entrada da luz e das imagens no olho. Caracterizam-se por alterações do reflexo vermelho do fundo do olho. São exemplo as cataratas, as alterações da córnea e do vítreo.
As mais frequentes são os erros refractivos e os estrabismos. Entre os erros refractivos são sobretudo importantes as situaçoes em que há um erro refractivo muito elevado ou que há uma diferença de erro entre os dois olhos (anisometropia). No total os erros refractivos e o estrabismo representam cerca de 99% das causas de ambliopia.

É possível prevenir?

Claro que sim.
As obstruções do eixo visual devem ser tratadas antes que a ambliopia se instale. Do mesmo modo, os erros refractivos, quando ambliogénicos devem ser compensados precocemente de forma a evitar a ambliopia. A maioria dos estrabismos tem uma causa refractiva pelo que o seu aparecimento pode ser prevenido pelo uso de óculos em tempo útil; nos casos de estrabismo por outra causa, o tratamento instituído precocemente também pode prevenir a ambliopia.

Como se faz o diagnostico correcto da doença?
Medindo a acuidade visual e constatando que é inferior ao normal; isto só é possível a partir dos 3 ou 4 anos de idade, quando a criança já colabora.
Nas crianças mais pequenas, não colaborantes, podemos inferir que existe ambliopia de um olho quando há uma reacção à oclusão do outro olho.
Nos casos de estrabismo podemos inferir da presença de ambliopia de um olho quando a criança fixa os objectos apenas com o outro olho.
A forma mais segura de diagnosticar e prevenir a ambliopia é a detecção de alteraçoes oculares capazes de provocar o aparecimento de ambliopia. O rastreio destas alteraçoes deve ser feito desde o nascimento e durante o primeiro ano de vida, pelos pediatras e pelos médicos de família. Durante o segundo e o terceiro anos de vida, todas as crianças deveriam ser rastreadas pelo oftalmologista no sentido de excluir a presença de erros refractivos importantes capazes de provocar ambliopia ou capazes de provocar estrabismo e por consequência ambliopia.

Como podem os pais proceder ao tratamento deste problema? Um acompanhamento no oftalmologista é essencial?

O ideal é evitar a instalação da ambliopia.
Isso faz-se com a realização de rastreio em tempo útil como foi explicado anteriormente. O ideal é efectuar o primeiro rastreio no segundo ano de vida; nesta idade rastreiam-se as causas de ambliopia já referidas. O segundo rastreio idealmente deve realizar-se aos 4 anos; nesta idade já existe colaboração para o registo da acuidade visual com testes de visão adequados à idade. À entrada para escola primária é também importante verificar o estado da função visual para garantir a presença de condições sensoriais adequadas para uma aprendizagem correcta.
Uma vez diagnosticada a presença de ambliopia o tratamento deve ser personalizado de acordo com a sua causa, a sua profundidade e a idade da criança. Deve ter-se em conta que mesmo nos casos em que o tratamento teve sucesso é possível haver uma recidiva da ambliopia até aos 7-8 anos.

Dicas para os pais.
Quando se deve fazer o primeiro exame aos olhos?

1.
O Pediatra do seu filho sabe que deve examinar os seus olhos desde os primeiros dias de vida. Por isso tem a preocupação de verificar se há alguma alteração morfológica ou alteração do luar pupilar, para o referenciar ao colega treinado em Oftalmologia Pediátrica de imediato.

2
.Deve consultar-se o Oftalmologista pediátrico sempre que:
- Exista história familiar de doença ocular;
- Exista um risco acrescido de doença ocular: prematuros, crianças com alterações neurológicas, dismorfias faciais e doenças genéticas;
- Exista suspeita de estrabismo, mal este apareça;

3
.Os factores de risco de Ambliopia como estrabismo, erros refractivos, opacidades dos meios transparentes, devem ser rastreados o mais cedo possível, sendo o seu despiste efectuado com muita facilidade a partir do ano de idade. O segundo ano de vida é a altura ideal para o primeiro rastreio visual.

4.
A acuidade visual pode ser medida em qualquer idade, o método é que pode exigir maior complexidade consoante essa idade. Mas, a partir dos 3 anos é possível medi-la com métodos muito simples e à disposição de todos os profissionais. 

5.
A medição da acuidade visual numa criança deve ser medida o mais cedo possível. Caso não tenha sido efectuada antes é obrigatório que se faça antes da entrada na escola.


Desenvolvido por Sistemas do Futuro