Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo

Gravidez e visão

Que cuidados deve ter uma grávida com a visão durante a gravidez?

A mulher grávida deve antes de mais ter os cuidados gerais compatíveis com uma vida saudável. Estes incluem uma dieta cuidada, um bom equilíbrio entre um exercício físico adequado e o repouso e abstinência de fumo, álcool ou drogas. Deve ainda fazer os necessários suplementos vitamínicos e de oligoelementos, por ex. de acido fólico, ferro e cálcio.
Uma gravidez deve ser planeada; os cuidados gerais de saúde devem iniciar-se antes de engravidar. É fundamental verificar o estado de saúde geral antes de engravidar ou obter um bom equilíbrio nos casos em que existem patologias capazes de piorar com a gravidez.
As alterações do metabolismo geral, do perfil hormonal e da circulação na mulher grávida são capazes de afectar o funcionamento do seu aparelho visual. Para além das alterações fisiológicas que ocorrem durante a gravidez, existem algumas doenças com repercussão visual que frequentemente se agravam neste período. Essas patologias (ex. diabetes e alguns tipos de tumores) devem ser rastreadas e/ou compensadas antes de engravidar.

É verdade que uma mulher que use óculos vê a sua graduação alterada com a gestação? Não pode mudar de lentes enquanto está grávida?

A ideia mais generalizada é de que a miopia aumenta durante a gravidez. O aumento da espessura e da curvatura da córnea, e o aumento da curvatura do cristalino poderão em alguns casos levara um desvio refractivo no sentido de aumentar uma miopia pré-existente.
Contudo é necessário dizer que a maioria dos estudos efectuados não demonstrou até ao momento que a gravidez seja um factor de risco para aumentar o erro refractivo.
Contudo manda o bom senso que sempre que possível se deva protelar a mudança de lentes para evitar o risco de nova mudança a curto prazo.
Relativamente a lentes de contacto a situação é diferente. Na gravidez há uma diminuição da sensibilidade da córnea, há aumento da sua espessura e algum edema por retenção de líquidos, pelo que um risco acrescido de intolerância às lentes de contacto mesmo em utilizadoras de longa data pelo que nunca se deve introduzir ou mudar lentes de contacto durante a gravidez

Devido às alterações que ocorrem na córnea também a cirurgia refractiva com laser está contra indicada.

Quando uma mulher engravida, recomenda-se uma consulta no oftalmologista logo que possível?

Numa mulher jovem e saudável e sem factores de risco não é necessário.
Essa consulta e uma vigilância regular justifica-se quando existam patologias com envolvimento visual susceptíveis de serem agravadas durante a gravidez, como por ex. a diabetes ou alguns tipos de tumores, nomeadamente os tumores da hipófise, os meningiomas ou os melanomas coroideus. Justifica-se também uma consulta imediata perante o aparecimento de outras doenças capazes de envolver o aparelho visual, como acontece na eclampsia, pré-eclampsia ou nas doenças vasculares oclusivas.

Quais os riscos que a gravidez pode trazer para a visão? Quais os problemas mais frequentes?

São três os tipos de alterações que podem acontecer no aparelho visual durante a gravidez:

1. Alterações (fisiológicas) relacionadas com a gravidez:
- diminuição da sensibilidade e  aumento da espessura da córnea por edema.
- diminuição da tensão ocular
- alterações pigmentares peliculares (“cloasma”)
- alterações do campo visual
- alterações transitórias na focagem (acomodação)
São alterações transitórias sem qualquer repercussão na visão.

2. Doenças com envolvimento ocular relacionadas com a gravidez:
- eclampsia e pré-eclampsia
- doenças vasculares oclusivas
Podem ter repercussões visuais que vão desde queixas ligeiras até perdas graves de visão. A recuperação pode ser completa ou podem persistir sequelas graves com défice visual grave. Após o parto há sempre melhoria rápida das lesões.                          

3. Doenças pré-existentes com envolvimento ocular, susceptíveis de se agravar com a gravidez
- diabetes
- tumores: hipófise, meningeomas, melanomas
As complicações visuais melhoram após a gravidez mas podem persistir sequelas com perda visual de gravidade muito variável.

Existem formas de prevenção desses mesmos riscos?

Os cuidados e a prevenção devem começar antes do inicio da gravidez. Todas as mulheres devem efectuar um “checkup”completo antes de engravidar. Devem certificar-se de que estão de boa saúde e de que não têm doenças ou alterações susceptíveis de se complicarem durante a gravidez. Se existirem alterações desse tipo e mesmo assim decidir engravidar deve garantir um bom controle dessas alterações antes e durante a gravidez.
Este controle é particularmente importante nas grávidas diabéticas. O controle da glicemia é o factor mais importante no prognostico das alterações visuais e sistémicas da grávida e do feto. A diabética deve ter os filhos o mais cedo possível: o tempo de evolução da diabetes é o principal factor de risco para a presença, gravidade e progressão da retinopatia diabética.
Todas as diabéticas devem ter um exame oftalmológico inicial no primeiro trimestre; o “follow-up” depende da evolução da doença sistémica e ocular durante a gravidez. No mínimo, nos casos em que não há retinopatia diabética deve fazer-se um exame oftalmológico no primeiro trimestre e um novo exame no terceiro trimestre para monitorizar qualquer alteração.
Nas doentes com alterações graves de retinopatia, nomeadamente com neovascularizaçao da retina, o parto deve ser efectuado por cesariana para evitar o risco de hemorragia durante o esforço do parto.

Que conselhos dá às mulheres grávidas para não virem a desenvolver problemas de visão durante a gestação?

Alimentação saudável que deve incluir suplementos vitamínicos e oligoelementos, exercício moderado, bom controle metabólico e ponderal, rastreio e vigilância de alterações ou doenças sistémicas capazes de agravar e/ou provocar alterações oculares durante a gravidez.

Quem já tem problemas de visão antes de engravidar, deve fazer uma vigilância adequada? De quanto em quanto tempo?

Os cuidados de vigilância nestes casos devem ser sempre personalizados. A vigilância deve ser adequada à patologia em causa, à sua gravidade e à sua evolução.
Por outro lado patologias diferentes podem ter momentos críticos para a respectiva vigilância. Algumas patologias podem agravar-se durante a gravidez como por ex. a retinopatia diabética, a doença de graves ou alguns tipos de tumores. Mas há também doenças como o glaucoma ou doenças inflamatórias (uveites) do globo ocular que podem melhorar durante a gravidez, mas que se agravam após o parto: nestes casos é necessária uma maior vigilância após o parto.
Um referencia particular para as grávidas com miopias elevadas em que há frequentemente o receio de complicações oculares durante um parto normal; não há razão para tal receio uma vez que não há qualquer risco adicional para a visão.

E depois da gravidez, quais os cuidados que a mulher deve ter?

São necessários cuidados sobretudo se houve alguma complicação visual durante a gravidez; a maioria das alterações visuais revertem após o parto mas em situações de maior gravidade podem persistir sequelas que importa identificar e tratar.
Outro tipo de cuidados deve ser dirigido para doenças que por vezes melhoram na gravidez e se podem agravar após o parto. É o que acontece por vezes com o glaucoma e com alguns tipos de uveite; por ex. nas grávidas com espondilite anquilosante é muito importante a vigilância nos primeiros meses após o parto, uma vez que cerca de 20 % desenvolvem nesse período um episódio de uveite.


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